terça-feira, 31 de maio de 2011

À Descoberta de Ribalonga (3.ª Parte)

Continuação de: À Descoberta de Ribalonga (2.ª Parte)
Depois de largos minutos de contemplação, desci os socalcos e segui em direcção ao cemitério. Junto deste existe uma capela recuperada recentemente. Foi colocada uma pequena torre sineira, arranjado o chão, paredes e o altar em talha, que estava bastante deteriorado. O interior está limpo e é luminoso. A recuperação deste espaço foi feita também com o objectivo de para aqui se mudar a imagem de Nosso Senhor dos Passos. A idade avançada dos seus menos de 100 habitantes causa a desconfiança de que a distância da capela poderia ser mais uma dificuldade para a incorporação do andor com esta imagem nas procissões. Assim, a capela é usada no dia dos Fieis Defuntos e, ocasionalmente, nalgum funeral.
No cemitério, com uma excelente localização, admirei uma bonita cruz em granito e os pináculos, que superam em beleza os da igreja. Junto deste bairro encontrei também uma das mais altas e invulgares oliveiras que já vi na vida!
Dei continuação ao passeio seguindo pela rua da Fonte. Não tinha encontrado registado em lugar algum a existência de uma fonte de mergulho, mas, na verdade, há uma nessa rua. Encontra-se numa posição bastante inferior em relação ao caminho, mas talvez nem sempre tenha estado assim. As fontes não descem, normalmente são os caminhos que sobem a fim de serem alargados e nivelados. Está cheia de água e parece-me que pode acarretar algum perigo para quem passa no caminho.
Por cima da fonte, junto a um medronheiro e um pequeno espaço ajardinado, foi feito um nicho em xisto. Tem no seu interior a imagem de S. António, com o Menino ao colo.
Próximo desta, e num espaço muito bem arranjado, está outra fonte que tem gravado o ano de 1938. O tanque com lavadouros é recente. Só aqui faz falta alguma sombra, para o espaço se tornar mais agradável.
Seguindo pela rua da Fonte fui de novo dar à fonte de Santa Marinha. Desta vez sentei-me à sua frente, à sombra, uma vez que o sol do meio-dia estava quente. É feita em granito bem aparado e limpo recentemente. Tem ao centro um painel de azulejo em azul e branco feito em Coimbra. Ao centro diz: “Fonte de Santa Marinha”. Não provei a água. Não encontrei ninguém a quem perguntar se a mesma era potável, nem havia qualquer placa indicativa do contrário.
Depois de alguns minutos de descanso subi à rua do Cimo do Povo. Tal como em quase toda a aldeia, também aqui se combinam as casas bonitas, recuperadas, com as mais antigas, em ruínas, algumas do início do século XX. As varandas tradicionais, em madeira, já não são muito frequentes mas aqui fui encontrar algumas. Do lado de baixo da estrada, quase escondida, encontrei uma espécie de nascente.
Regressei à rua da Calçada disposto a percorre-la até ao fim. É longa e sempre a descer, seguindo o declive do vale orientado para o Douro. Embora pouco povoada, é uma rua antiga, que já conheceu melhores dias. Melhor, nunca deve ter estado o acesso, através do Canelho Novo, composto, que nos conduz à rua da Amendoeira, a mais movimentada da aldeia. Ainda desci alguns metros na esperança de encontrar aberto o espaço comercial constituído por um minimercado e um café, que outrora ali existiu. Estava fechado, e já assim deve estar há alguns anos.
De regresso ao largo do coreto passei pela antiga escola Primária. Riba Longa teve escola primária masculina desde 1901, até que a diminuição da população e a falta de uma política de desenvolvimento local levaram ao seu encerramento, há poucos anos. O edifício serve actualmente para convívios entre a população. Merece ser recuperado e arranjado o espaço envolvente.
Do alto das escadas de uma casa em frente à escola chegou-me uma calorosa “Boa tarde”. Uma criança com cerca de quatro anos olhava-me com olhos curiosos. Alguém que passa na rua, ainda que desconhecido, é bem-vindo para quem vive quase sozinho, sem outras crianças para brincar. São assim as nossas aldeias.
Quando cheguei ao local onde tinha iniciado o meu percurso pela aldeia senti-me bastante satisfeito com o que tinha visto e fotografado. Há sempre coisas diferentes para ver, e Descobrir Ribalonga sem fazer uma visita à Fragas das Ferraduras e às pinturas rupestres do Cachão da Rapa é imperdoável. Recordo-me vagamente do caminho e sei que ainda é bastante longe. Farão parte do programa de uma nova visita a Ribalonga.
Subi pela estrada municipal em direcção a Castanheiro do Norte. A inclinação é grande mas vale a pena fazer algumas paragens onde a largura da estrada o permitir com segurança. A paisagem que se estende vale abaixo é deslumbrante. As linhas ondulantes dos socalcos, os reflexos do sol nos arames, as rústicas paredes de xisto que mal deixam ver o solo, tudo são elementos de um dos mais belos quadros de Portugal.
Não quis terminar a visita sem percorrer a estrada Nacional 214 durante alguns quilómetros em direcção a Foz-Tua. Com a luz rasante do final do dia a entrar pelo vale adentro foi-se instalando a hora do silêncio. Aos poucos os pássaros regressaram aos seus locais de repouso e Ribalonga aninhou-se no quentinho do seu vale.
Terminou mais um dia.

domingo, 29 de maio de 2011

À Descoberta de Ribalonga (2.ª Parte)

Continuação de: À Descoberta de Ribalonga (1.ª Parte)
Um pouco ao acaso, continuei pela rua das Cortinhas que conduz ao largo do “Choupo”. Compreendi, sem dificuldade, que ali era o coração da aldeia. Existem à volta deste largo: a igreja matriz; a fonte de Santa Marinha; a sede da Junta de Freguesia; a confluência de 4 ruas que partem em direcções opostas, permitindo alcançar todo o povoado.
As igrejas são um dos pontos de referência que nunca perco em qualquer aldeia que visite. Como seria de esperar, estava fechada, mas não dei o tempo por perdido. Das traseiras da mesma têm-se uma bonita vista do bairro do Barreiro e dos socalcos em frente, cheios de vinha e olival. Apetece passear o olhar, vale abaixo, em direcção ao Douro. É um bom local para repousar, acompanhado por uma velha oliveira, ainda carregadinha de negras azeitonas, uma romãzeira e uma mimosa em flor, onde um pintassilgo cantava incessantemente.
Embora a igreja de Ribalonga se tenha tornado autónoma da de Linhares no início do séc. XVI, a pobreza dos habitantes e o domínio incondicional de uma só família, não permitiram a construção de um grande templo. Sabe-se que em 1562 existia aqui uma pequena capela coberta com colmo. Em 1687 era pároco de Riballonga, Domingos de Mendes, tendo já orago de S. Marinha. A igreja actual deve ter sofrido várias remodelações e ampliações, ficando com o aspecto actual em 1714, ano inscrito na padieira da porta do frontispício.
Curiosamente, em 1680 já existia em Ribalonga (Quinta de Ribalonga) a capela do Espírito Santo, mandada fazer por Manuel de Mello Sampayo, pertencente ao Margadio da Senhora da Graça. Que é feito dessa capela? Será que se tratava da capela do Senhor dos Passos?
Completada a volta à igreja, reparei nas curiosas “torres”, sobre os pilares que suportam o gradeamento. Segui pela rua da Calçada. A poucos passos de distância encontram-se as ruínas de uma casa brasonada. Trata-se de um brasão dos Sampaios. Conhecida como a casa dos Viscondes, é o oposto daquilo que a história diz sobre a importância desta casa e desta família para a aldeia de Ribalonga.
Os senhores Sampaio eram donos absolutos de todo o termo de Ribalonga. Além dos terrenos que geriam directamente, arrendavam os restantes, recebendo de renda centeio, trigo, azeite galinhas, marrã, peixes do rio e dinheiro. É de salientar que o vinho não tinha na altura (séc. XVII) a importância que tem hoje. Os terrenos estavam divididos por 65 casais.
Em 1759 o morgado de Ribalonga, Antonio de Mello S. Payo Pereira Pinto do Lago, pede ao rei que lhe sejam devolvidos os concelhos de Vilarinho da Castanheira e de Ansiães. Estas terras estavam doadas à família Sampaio desde o séc. XIV.
À entrada da Canelha de Cima dei comigo a pensar: as casas humildes, perduraram, estão recuperadas; as casas ricas, sumptuosas, estão em ruínas. No portal do que já foi um lagar de azeite o ano de 1717 atesta a antiguidade da construção. Foi nesta canelha que me apercebi da combinação do xisto e do granito na construção das casas.
Na Canelha de Baixo fui encontrar ruas estreitas e casas degradas. Uma amostra do que terá sido o início da aldeia. Mesmo assim, ainda há gente a morar ali.
De regresso à rua da Calçada, resisti à tentação de continuar a descida. Após admirar o gradeamento em ferro forjado numa varanda de uma casa tradicional, descobri, por acaso, a rua da Fonte do Vale. Rua, é favor, uma vez que se trata de um passagem que se vai tornando cada vez mais estreita e íngreme e que conduz à ribeira da Lavandeira. É um bom percurso pedestre, que segui com entusiasmo, pois onde está a rua da Fonte, deve estar a fonte. Esta encontra-se já fora da povoação, depois de atravessada a ribeira. Não me foi difícil imaginar que se tratou de um dos principais pontos de abastecimento de água da aldeia. O estreito caminho era percorrido pelas mulheres com o cântaro à cabeça, que alinhavam pela ordem de chegada junto da fonte, enquanto esperavam pela sua vez.
A fonte teve no passado um aspecto bastante diferente, uma vez que agora está completamente fechada, sendo mais um reservatório que alimenta um tanque de lavar a roupa, também ele pouco ou nada utilizado. É um local agradável, exposto ao sol e com cheiro a citrinos.
Decidi continuar a afastar-me da aldeia subindo alguns socalcos com vinha. Tal como esperava, a paisagem que dali se avista é magnífica. É possível ter uma noção perfeita de quase todas as ruas, para completar a visão que se tem da Estrada Nacional, do sítio do Rebentão, para onde as pessoas de Ribalonga se deslocavam a pé, quando queriam apanhar os transportes públicos para o Tua ou para a sede de concelho. Subi mais um pouco a encosta até que um bando de tordos assustados abandonou um rectângulo de mato encaixado no meio dos socalcos. A minha curiosidade pela flora levou-me a encontrar arçãs (já em flor!), madressilva e medronheiros. Na descida pela rua da Fonte do Vale também encontrei alguns pés de sumagre!
Sentei-me numa parede a olhar a aldeia. A tranquilidade era imensa, só interrompida pelo canto de um garnisé, sempre enérgico, na rua do Barreiro.

Continua
À Descoberta de Ribalonga (3.ª Parte)

sábado, 28 de maio de 2011

À Descoberta de Ribalonga (1.ª Parte)

Quando, no início do mês de Março, escolhi Ribalonga como meu destino, fiquei cheio de expectativa. Era uma aldeia praticamente desconhecida para mim, uma vez que, apesar de a ter atravessado muitas vezes, poucas foram as que deixei a rua principal (com o bonito nome de rua da Amendoeira), para me aventurar nas ruas e becos que compõem o povoado. Uma excepção aconteceu no final da década de oitenta, já não sei precisar o ano, em que, acompanhado por pessoas da aldeia e alguns amigos caminhámos de Ribalonga até ao Douro, à descoberta da Fraga das Ferraduras e das pinturas rupestres do Cachão da Rapa.
Sempre que realizei alguns passeios nos termos de Parambos e Castanheiro do Norte o olhar fugiu em direcção ao vale, onde as casas parecem estar de tal forma integradas que seria difícil imaginá-lo sem elas. Foram as pessoas que assim o moldaram. À excepção de algumas pequenas parcelas de terra mais planas nas margens da ribeira da Lavandeira, tudo em redor é fruto do trabalho do homem que ao longo de muitas gerações construiu socalcos para segurar punhados de terra onde as oliveiras, amendoeiras, videiras e laranjeiras pudessem fixar as suas raízes. E não é precisa muita. A terra parece ter magia e as plantas crescem, viçosas, dando, ainda hoje, a maior parte do sustento àqueles que não cederam ao impulso da emigração.
A situação geográfica abençoa o vale, protege as suas colheitas e fá-las ficarem prontas cedo, antes do conseguido na zona da frieira, mais próxima da sede de concelho.
Ribalonga é a terra natal da minha tia e madrinha, tirada do calor da pequena aldeia soalheira e levada por meu tio para outra semelhante, algures nos arredores de Mirandela, onde tomaram conta da quinta de uma família abastada. Ali viveram até que o Criador se lembrou deles.
A porta de entrada em Ribalonga é a Estrada Municipal 634 que, desde já alguns anos, serve de alternativa à Nacional 214, que une Castanheiro do Norte a Foz-Tua.
O largo das Amendoeiras, junto ao coreto e ao lagar, é um dos pontos mais centrais e mais procurados da aldeia. Foi aí que estacionei o carro, fazendo todo o percurso de reconhecimento a pé.
O início da manhã em Ribalonga parecia o amanhecer no paraíso! Ouviam-se coros de pintassilgos, verdelhões, tentilhões, milheiros, etc. Todas as espécies de aves anunciavam a Primavera, já próxima. Uma poupa e um rabirruivo digladiavam-se pela posse de um buraco na parede de xisto de um armazém próximo. Sentei-me à sombra de um cedro enquanto preparava o material fotográfico e a "cábula" que me iria acompanhar na visita à aldeia. Para apreciar a beleza basta estar atento, e sensível, mas, para compreender alguma coisa da história que as pedras nos podem contar, é melhor recorrer à sabedoria dos livros.
A primeira surpresa tive-a mal dei os primeiros passos. Na parede há um bonito nicho com uma enorme imagem de S. Marinha. O gradeamento em ferro forjado ostenta o ano de 1992. Pereceu-me uma construção muito recente, mas, pelo que consegui apurar, não havia mesmo nada no local antes dessa data. S. Marinha é a padroeira de Ribalonga, santa de muita devoção. Ao longo da aldeia fui encontrar vários painéis de azulejos com representação desta santa. No séc. XVI já existia em Ribalonga a confraria de Santa Marinha.
Seguindo pela rua de Santa Marinha, encontra-se, pouco depois, um dos principais “postais” da aldeia. Trata-se de uma casa brasonada com uma capela. A pequena janela na parede lateral da capela despertou-me a atenção. Será que teria alguma função? Os pináculos da capela são diferentes dos da casa brasonada, mas igualmente bonitos. Fizeram-me lembrar os da igreja matriz de Marzagão ou da de Linhares. A capela tem o ano de 1766 e, mesmo sendo particular, é nela que está a imagem de Nosso Senhor dos Passos, presença habitual na procissão das festas de Santa Marinha a 18 de Julho.

Continua
À Descoberta de Ribalonga (2.ª Parte)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Passeio Pedestre - Trilho da Foz do Tua - 4 de Junho

Mais uma iniciativa interessante em que não vou puder estar... :(
Está no meus planos fazer toda a Rede Municipal de Percursos, só não sei quando. Até hoje só ainda fiz o Percurso de BTT por Trilhos Vinhateiros e foi muito interessante.

Ficha de Inscrição.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

XXII Feira do Livro

Mais uma boa razão para visitar Carrazeda de Ansiães.
Eu vou fazer os possíveis por estar presente e adquirir mais alguns livros que me ajudem a Descobrir o concelho de Carrazeda de Ansiães. A publicação de de obras de autores locais, ou sobre o concelho, não é muito abundante mas, este ano, haverá a apresentação de um interessante livro de Alexandre Parafita, Património Imaterial do Douro, onde tenho também alguma participação a nível fotográfico.
Infelizmente no dia 4 de Junho  não vou poder estar, mas espero visitar a feira no dia 3.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Ribalonga (III)

Foi publicado na última edição do jornal "O Pombal" de Pombal de Ansiães, o relato da minha memorável visita a Ribalonga no dia 19 de Março. Foi um dia de reconhecimento dos mais pequenos recantos da aldeia, mas, o deslumbramento começou mesmo antes de aí chegar. Esta é a visão que se tem, mal se deixa o Castanheiro em direcção a Ribalonga.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Belver (03)

Um recanto florido de Belver.