segunda-feira, 30 de abril de 2012

S. Luzia - Besteiros

Capela de Santa Luzia, Besteiros
 No dia 9 de Abril rumei a Besteiros. Tradicionalmente na segunda-feira de Páscoa festeja-se Santa Luzia e as romarias à capela da aldeia têm fama nas freguesias vizinhas e nas redondezas.  Não conhecia o programa e cheguei pela manhã ao calmo lugar pertencente à freguesia de Fontelonga.
A calma do lugar deu-me a indicação de que pouca coisa iria acontecer, mas já me dei por satisfeito por encontrar a capela aberta (e sem nenhum automóvel, autocarro ou carrinha estacionado à frente, o que é bastante raro).
A capela é cheia de cor. As imagens são antigas principalmente as laterais, de S. Gonçalo (padroeiro de Zedes) e de S. Domingos. A imagem central que representa Santa Luzia ou Santa Lúcia (nome original), não tem os símbolos que normalmente a caracterizam, uma salva com dois olhos. A imagem no altar lembrou-me imediatamente a de Santa Cecília do santuário em Seixo de Manhoses e tenho dúvidas que seja de Santa Luzia. Há outras imagens mais antigas de Santa Luzia na capela que não oferecem qualquer duvidas.
Interior da capela de Santa Luzia, Besteiros
Santa Luzia viveu em Siracusa e morreu no início do Séc. IV, virgem (dai as flores em volta da cabeça) e executada.  Não há nada que a relacione com a cegueira, a não ser o seu nome (Luz), podendo os olhos que normalmente segura serem também interpretados como iluminação divina. A sua festa ocorre a 13 de dezembro, poucos dias antes do solstício de inverno.
Esta Santa é venerada como protetora dos olhos, de doenças como a cegueira, miopia ou estigmatismo, daí o ritual, que também se verifica no culto a outros santos de passar a palma da imagem pelos olhos, enquanto se reza em frente da imagem. Também é habito oferecem uma salva com dois olhos, em cera.
No local encontrei quatro ou cinco pessoas que com quem falei, nos seus intervalos de oração e cumprimentos de promessas. Além da passagem da palma pelos olhos (a palma simboliza muitas vezes a vitória), fazem-se voltas à capela enquanto se reza.
Pagamento de promessas
Tentei obter informações sobre as romarias de outros tempos, mas pouco consegui apurar. Nos contactos que já tive com pessoas de Fontelonga e do Seixo de Ansiães fiquei com a ideia que a segunda-feira de Páscoa se passava em Besteiros. Juntavam-se grupos de pessoas que se deslocavam a pé, muitas vezes acompanhadas por instrumentos musicais. Depois das cerimónias religiosas as pessoas espalhavam-se pelo largo e pelos lameiros em redor a comerem as suas merendas em festa. Cantavam, tocavam e dançavam.Noutros tempos as romarias eram momentos privilegiados para conhecimento e aproximação dos jovens, que quase nunca eram bem aceites pelos rapazes da aldeia das raparigas. Havia alguma rivalidade entre os grupos das aldeias que referi. O regresso a casa também se fazia em festa.
Há quem diga que a festa foi esmorecendo porque o Sr. Padre Antonione não gostava do convívio que se seguia às cerimónias religiosas, mas pode haver muitas razões. Certo é que já não se comem os folares em Besteiros, em dias de festa à Santa Luzia.
A procissão de Fontelonga a Besteiro iria realizar-se ao fim da tarde. Ainda não foi em 2012 que acompanhei o que resta desta tradição.

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